O Novo Nem Sempre É Melhor: A Crise Ética e Tecnológica da Modernidade

Vivemos um paradoxo da era digital: quanto mais a tecnologia avança, mais perdemos o controle sobre o que criamos. A pressa por inovação e lucro vem substituindo valores como ética, qualidade e responsabilidade. Este texto propõe uma pausa para refletir — afinal, qual é o verdadeiro papel da inovação no progresso humano?

Iraê César Brandão

9/27/20252 min read

Vivemos uma era em que a inovação tecnológica é exaltada como símbolo máximo do progresso humano. Softwares e sistemas inteligentes surgem a cada dia, prometendo eficiência e soluções rápidas para problemas complexos. No entanto, essa revolução digital tem revelado um paradoxo inquietante: quanto mais avançamos tecnologicamente, mais perdemos o controle sobre aquilo que criamos — e, com isso, comprometemos valores fundamentais como ética, profissionalismo e responsabilidade social.

Antigamente, o desenvolvimento de softwares era conduzido por engenheiros e especialistas gabaritados, com profundo conhecimento técnico e um compromisso ético com a qualidade. Esses profissionais compreendiam a fundo o código que produziam e tinham como meta principal gerar soluções úteis, duradouras e seguras aos usuários. O software era um instrumento de transformação social, pensado para servir às pessoas e às instituições com responsabilidade e propósito. Eram soluções.

Hoje, em contrapartida, vivemos um cenário distinto. O uso crescente de tecnologias automáticas e ferramentas de Inteligência Artificial tem gerado códigos complexos e muitas vezes indecifráveis até mesmo para seus próprios criadores. A busca desenfreada por rapidez e lucro imediato substituiu o zelo técnico e a reflexão ética. Assim, novos softwares — e produtos em geral — chegam ao mercado sem a devida preocupação com confiabilidade, durabilidade ou impacto social.

Esse fenômeno transcende o campo tecnológico. Ele reflete uma lógica mercadológica que se disseminou por toda a economia: reduzir custos a qualquer preço, mesmo que à custa da qualidade e da integridade. O resultado é visível nas prateleiras e nos serviços — produtos frágeis, inconsistentes e, muitas vezes, desrespeitosos ao consumidor. A pressa e o baixo custo têm substituído a ética na produção.

A sociedade, anestesiada por essa cultura do consumo, passou a aceitar a precarização como normalidade. A relação entre custo e benefício foi distorcida: economiza-se não para ser eficiente, mas para produzir o mínimo possível com o menor esforço e a maior margem de lucro. A consequência é uma economia de baixa consciência, onde a mediocridade se disfarça de inovação e o consumidor é tratado não como sujeito de direitos, mas como mero número em estatísticas de vendas.

Essa lógica mercadológica sem consciência invade até mesmo o campo da educação, transformando o conhecimento em produto e o aprendizado em negócio. Manipular números tornou-se mais vantajoso do que formar indivíduos críticos e criativos. A identidade e o valor humano foram substituídos pelo retorno financeiro — e o resultado é um mundo em que a tecnologia cresce, mas a sabedoria encolhe.

É preciso, portanto, repensar o verdadeiro papel da inovação. A tecnologia, por si só, não é sinônimo de progresso. O novo só tem valor quando carrega em si ética, propósito e humanização. A verdadeira modernidade não está em criar máquinas cada vez mais inteligentes, mas em formar pessoas e instituições capazes de usar a inteligência — humana e artificial — para construir um futuro mais consciente, justo e sustentável.

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